Gasolina mais barata anima motoristas, mas exige atenção com veículos antigos
Com preço atrativo, gasolina com 30% de etanol já é encontrada nos postos da Grande Vitória. Especialistas explicam os impactos da nova mistura nos diferentes tipos de veículos
"Quando vi o preço, achei que o frentista tinha errado", brinca o técnico em edificações Marcelo Santana, ao abastecer seu carro em um posto de combustíveis na Grande Vitória, onde a gasolina comum estava sendo vendida por R$ 5,86 o litro. O valor chamou atenção, principalmente em tempos de combustível volátil e com preços muitas vezes acima de R$ 6. Mas o que Marcelo, e muitos motoristas, talvez não soubesse é que o combustível mais barato tem uma nova composição: trata-se da gasolina E30, com 30% de etanol anidro.
Essa nova mistura, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética, começou a ser distribuída em diversas regiões do país, incluindo o Espírito Santo. A proposta é simples: aumentar o percentual de etanol na gasolina para reduzir custos e emissões. Ou seja, o novo combustível passa a conter 30% de etanol anidro (E30), ante os 27% anteriores (E27), enquanto o diesel terá 15% de biodiesel, contra 14%.
Mas será que todo carro pode receber essa nova gasolina sem riscos? Segundo o mecânico Cedrik Ozório, da Cedrik Ozório Car Service, a resposta depende do tipo de veículo. Carros mais antigos, que não são flex, precisam de atenção redobrada. “Carros fabricados até o início dos anos 2000, projetados para rodar com gasolina pura ou com no máximo 22% de etanol anidro, podem ter problemas com a E30”, explica.
Cedrik informa que os problemas mais comuns que esses veículos podem apresentar estão:partidas difíceis a frio, falhas de ignição e marcha lenta irregular, corrosão em mangueiras e juntas não compatíveis com etanol, aumento no consumo de combustível e luz da injeção acesa, indicando mistura inadequada.
Veículos Flex
Nos veículos flex, a introdução da gasolina E30, com 30% de etanol anidro na composição, não representa qualquer risco ao funcionamento ou à durabilidade do motor. Isso porque esses modelos foram projetados justamente para operar com diferentes proporções de álcool e gasolina, desde 100% de um até a combinação de ambos. De acordo com o mecânico, não é necessário realizar nenhum tipo de ajuste no sistema de injeção ou ignição ao abastecer com o novo combustível. “Os carros flex são equipados com sensores de oxigênio e um módulo eletrônico de controle, chamado ECU, que identifica automaticamente a proporção entre etanol e gasolina e faz os ajustes necessários na mistura e no ponto de ignição”, explica.
Além da flexibilidade de uso, a E30 apresenta uma octanagem RON 94, superior à das versões anteriores da gasolina comum. Esse índice mais alto pode oferecer melhor desempenho e maior proteção contra detonações prematuras (as chamadas "batidas de pino"), especialmente em motores mais modernos, com alta taxa de compressão, ignição variável ou turbos. No entanto, Cedrik reforça que nem todo carro vai sentir esse ganho de performance: “Motores mais simples ou antigos não conseguem explorar esse potencial extra da octanagem”, afirma.
Abastecimento sem medo
Outro benefício para os motoristas de carros flex é que o etanol presente em maior proporção ajuda a reduzir as emissões de poluentes, o que contribui para um impacto ambiental menor. Por isso, quem possui um veículo flex pode abastecer com a nova gasolina sem receio, aproveitando os preços mais baixos e o bom desempenho, desde que mantenha a manutenção preventiva em dia, especialmente em relação ao sistema de injeção, velas, filtros e bomba de combustível.
A E30 representa uma mudança positiva para a maioria dos motoristas brasileiros, principalmente os que dirigem veículos mais recentes. No entanto, como reforça Cedrik, é fundamental continuar abastecendo em postos de confiança e acompanhar o comportamento do carro após a troca de combustível, para garantir segurança e eficiência.
Recomendações finais para abastecer com E30:
-
Carros flex: pode usar sem medo, pois o sistema se adapta.
-
Carros a gasolina (não flex): consulte o manual ou evite abastecer com esse tipo de combustível.
-
Faça manutenção preventiva regularmente.
-
Observe o desempenho e consumo após abastecer.
-
Desconfie de preços muito baixos.
-
Abasteça aos poucos se estiver em dúvida.

