Alopecia: especialistas detalham causas, diagnósticos e avanços nos tratamentos da queda capilar
Ao revelar sua condição capilar, Gretchen amplia o debate sobre a alopecia; dermatologistas explicam sinais de alerta, tipos da doença e terapias modernas para recuperar a saúde dos fios
A cantora Gretchen, 66 anos, reacendeu um debate importante ao falar publicamente sobre a alopecia, condição que acompanha há alguns anos. Segundo ela, a queda capilar significativa é resultado de diversos fatores acumulados ao longo da vida, como uso frequente de química, mega-hair, sequelas da covid-19 e efeitos da reposição hormonal. Em gesto de transparência, a artista afirmou ter feito questão de mostrar ao público a realidade de seu cabelo e o processo de tratamento que segue. O desabafo trouxe à tona um tema que afeta milhões de pessoas no Brasil, especialmente mulheres, mas que ainda é carregado de estigmas: a perda de cabelo e os impactos emocionais que ela provoca.
A médica Renata Melo explica que a alopecia é, em termos simples, um tipo de queda de cabelo que pode ocorrer de forma localizada ou espalhada por toda a cabeça. “O uso de apliques, procedimentos químicos agressivos, além de fatores genéticos ou hormonais, podem desencadear a queda”, afirma. Ela destaca que, apesar da preocupação crescente, o avanço tecnológico tem permitido diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes. “Entre os recursos mais modernos, contamos com a tricoscopia digital, exames laboratoriais e uma anamnese completa para identificar a causa da queda. A partir disso, avaliamos o tratamento mais adequado. Hoje temos opções como a microinfusão de medicamentos na pele, o laser fracionado, a terapia com exossomos capilares e a mesoterapia capilar”, detalha Renata. A especialista reforça também que hábitos diários, como alimentação equilibrada e cuidados contínuos com os fios, são essenciais no fortalecimento capilar.
Diagnóstico
A dermatologista da Unimed Sul Capixaba, Fernanda Loss, aprofunda o tema ao lembrar que “queda de cabelo é um sintoma, quando o cabelo está caindo mais do que deveria. A alopecia é qualquer condição que leve à diminuição dos cabelos, seja por queda, afinamento ou perda definitiva”. Segundo ela, alguns sinais merecem atenção imediata: aumento de fios no travesseiro, redução da espessura do rabo de cavalo e o surgimento de entradas mais marcadas. Esses indícios podem apontar desde quadros simples e temporários até doenças mais complexas do couro cabeludo.
A dermatologista Fernanda Loss conta que uma dermatoscopia pode detectar os graus de alopécia. Foto: Divulgação
Fernanda explica que existem inúmeras formas de alopecia, divididas entre cicatriciais e não cicatriciais. Nas alopecias cicatriciais, o folículo piloso é substituído por tecido fibroso, o que impede o crescimento dos fios, como ocorre na alopecia fibrosante frontal ou no líquen plano pilar. Já nas não cicatriciais, o cabelo pode voltar a crescer com tratamento adequado. É o caso do eflúvio telógeno, que surge após situações como parto, infecções, cirurgias ou suspensão de anticoncepcionais; da alopecia androgenética, de forte componente genético; e da alopecia areata, geralmente associada a gatilhos como estresse e ansiedade.
Para distinguir cada tipo, a consulta especializada é indispensável. “A dermatoscopia é um exame realizado no próprio consultório que nos ajuda a fazer o diagnóstico das alopecias, mas muitas vezes precisamos realizar biópsias para esclarecer o quadro”, afirma Fernanda. O diagnóstico precoce é particularmente crucial nos casos cicatriciais, nos quais a intervenção rápida pode minimizar danos irreversíveis.
Tratamentos
As opções terapêuticas são diversas, mas nem todas têm comprovação científica sólida. Fernanda ressalta que “LED, microagulhamento, mesoterapia e PRP são terapias que podem ser realizadas, mas ainda carecem de estudos para comprovar eficácia”. Por outro lado, há medicamentos amplamente utilizados e reconhecidos, como minoxidil, em versões tópica e oral, finasterida, espironolactona e corticoides injetáveis ou tópicos, prescritos conforme cada caso.
A médica alerta para o principal mito envolvendo a queda capilar: acreditar que vitaminas ou xampus antiqueda resolvem todos os problemas. “O diagnóstico exige uma consulta detalhada com o dermatologista, muitas vezes com solicitação de exames para avaliar tireoide, níveis de vitaminas, presença de anemia, além da dermatoscopia e, em alguns casos, da biópsia do couro cabeludo”, pontua.
Com informação, diagnóstico adequado e acompanhamento contínuo, especialistas ressaltam que é possível controlar a condição, recuperar parte dos fios e, principalmente, restaurar a autoestima.
Autoestima
A jornada da farmacêutica Edilvânia Lopes com a alopecia começou cedo e marcou profundamente sua relação com a própria imagem. Ela conta que descobriu a condição ainda na adolescência. “Foi triste, eu descobri quando tinha uns 17 anos. Minha mãe também tinha, e por isso tinha bem pouco cabelo, mas eu tinha bastante e não achava que aconteceria comigo”, relembra. O susto veio quando percebeu que os fios começaram a afinar rapidamente na parte frontal da cabeça. A partir dali, iniciou uma longa busca por respostas. “Eu fiz vários tratamentos durante anos a fio, mas nada adiantou, então, depois dos 40 anos, resolvi usar uma prótese, pois a alopecia estava muito avançada", diz.
Diagnosticada com alopécia, Gretchen renovou o visual que aumentou sua autoestima. Foto: Divulgação
Ao longo desse processo, Edilvânia recorreu a diversos produtos e terapias, mas muitos dos resultados ficaram aquém do esperado. Hoje, ela não utiliza nenhum tratamento específico para conter o avanço da condição. “Hoje não uso mais, talvez eu volte a usar, mas no momento não, pois tudo o que usei na vida não adiantou”, afirma, com a franqueza de quem já enfrentou inúmeras tentativas frustradas.
Apesar do impacto emocional que a alopecia causou no passado, Edilvânia revela que encontrou um caminho de aceitação e conforto. O uso da prótese capilar trouxe não apenas autoestima, mas praticidade ao seu dia a dia. “Chega um momento que a gente para de se entristecer com o fato e simplesmente aceita”, afirma. Para ela, a prótese tornou-se parte natural de sua rotina: “A prótese já faz parte da minha vida. Sinto como se fossem meus cabelos mesmo. Apenas não é tão confortável quanto os cabelos reais, para pentear, passar produtos etc. Mas a gente se habitua", conta.
Hoje, Edilvânia fala sobre sua experiência com tranquilidade, mostrando que, apesar dos desafios, é possível reinventar a própria relação com a imagem, encontrar soluções que tragam bem-estar e, sobretudo, acolher as mudanças com coragem e serenidade.

