Retrofit transforma imóveis antigos em soluções modernas e sustentáveis no Espírito Santo
Especialistas destacam o avanço da modalidade no estado como alternativa à demolição e à construção de novos prédios, unindo valorização imobiliária, eficiência energética e preservação da memória urbana
A busca por soluções que aliem modernização, sustentabilidade e valorização patrimonial tem impulsionado o crescimento do retrofit em todo o Brasil, e o Espírito Santo segue essa tendência. A técnica, que consiste em requalificar edificações existentes sem demolir sua estrutura original, vem sendo aplicada em prédios residenciais, comerciais e públicos, transformando construções antigas em espaços modernos e eficientes.
Segundo Tayana Mattos, CEO da GT Engenharia, o retrofit “vem sendo cada vez mais aplicado como uma alternativa sustentável e inteligente à demolição e reconstrução”. A engenheira explica que o conceito está fortemente associado à eficiência energética e à atualização de normas técnicas. “Edifícios comerciais, públicos e residenciais antigos têm sido os principais alvos dessas intervenções, pois o retrofit prolonga sua vida útil, reduz custos operacionais e adequa-os às exigências atuais de desempenho e sustentabilidade”, afirma.
Em termos técnicos, ela explica que o retrofit difere de uma simples reforma. “Enquanto a reforma busca reparar ou renovar elementos existentes, o retrofit tem um caráter estratégico, moderniza a edificação para atender padrões atuais de segurança e sustentabilidade, preservando a estrutura original.” O engenheiro ressalta que o investimento inicial pode ser maior, mas o retorno compensa. “O custo-benefício é superior no longo prazo, pois o retrofit reduz o consumo de energia e manutenção, além de valorizar o patrimônio.”
Entre os principais desafios, Tayana cita a compatibilização de novas tecnologias com estruturas antigas. “Muitas vezes encontramos instalações fora das normas atuais e limitações estruturais que exigem soluções personalizadas. Por isso, investimos em escaneamento 3D e estudos de viabilidade técnica para minimizar impactos e preservar as características originais", diz.
Valorização
Para as arquitetas Jacque Barros e Ana Forattini, sócias do escritório BF.Archi, o retrofit representa também uma forma de valorizar o que já existe. “Ele permite atualizar edificações sem apagar sua história, preservando identidades e reduzindo impactos ambientais”, explica Jacque. Ela destaca que o retrofit, antes restrito a prédios históricos, hoje alcança imóveis com mais de dez anos de uso. “Na Ilha de Vitória, onde os espaços são limitados e os imóveis novos estão muito valorizados, o retrofit é uma solução inteligente: moderniza e permite que os moradores permaneçam em bairros que amam", destaca.
O antes e o depois do ed. Mata da Praia, em Vitória. Obra de retrofit deu vitalidade ao imóvel. Foto: Divulgação/ BF.Archi
Um exemplo é o Residencial Mata da Praia, onde o retrofit transformou apartamentos antigos de 100 m², originalmente sem suíte, varanda ou elevador ,em unidades mais modernas e acessíveis. O projeto, considerado um case de sucesso, ampliou o conforto e a qualidade de vida dos moradores.
O síndico Igor França Ribeiro conta que a decisão pelo retrofit partiu da necessidade de melhorar a mobilidade dos condôminos. “Muitos moradores, hoje na faixa dos 70 a 80 anos, já tinham dificuldades com as escadas. O elevador trouxe qualidade de vida e valorizou o imóvel. Moramos em um dos melhores bairros da capital, e essa obra motiva outros prédios a fazerem o mesmo", lembrou.
A arquiteta Ana Forattini concorda. “O retrofit envolve diagnóstico técnico e reestruturação de sistemas. Embora demande mais planejamento, o resultado é um imóvel mais eficiente, seguro e competitivo no mercado.”
As arquitetas Jacque Barros e Ana Forattini, sócias do escritório BF.Archi. Foto: Divulgação
Para Jacque Barros, as novas tecnologias e materiais também são grandes aliadas. “No retrofit do Edifício Rio Paraná, por exemplo, utilizamos fachada ventilada, que garante conforto térmico e menor consumo energético. Além de modernizar a estética, a solução prolonga a vida útil da estrutura.”
Sustentabilidade
A sustentabilidade é outro ponto-chave. De acordo com Tayana Mattos, o retrofit “reaproveita estruturas existentes, reduzindo resíduos e consumo de materiais novos”, além de permitir a integração de painéis solares, vidros de alto desempenho e sistemas de automação".
No Espírito Santo, o movimento deve se intensificar com o apoio de políticas públicas e leis específicas. Em Vitória, o Projeto de Lei 173/2022 estabelece diretrizes para retrofit no Centro, com foco na revitalização de imóveis mantendo suas características originais. Outras cidades brasileiras, como São Paulo, já oferecem incentivos fiscais e linhas de crédito para esse tipo de intervenção, tornando-o mais acessível.
Para o futuro, Jacque Barros acredita que o retrofit será protagonista nas cidades. “Estamos vivendo um momento de reconexão com o que é essencial: reutilizar, preservar e reinventar espaços existentes. É uma resposta concreta aos desafios urbanos e ambientais", pontua.
Já a CEO da GT Engenharia reforça que a tendência é de crescimento contínuo: “O retrofit não apenas moderniza edificações, mas também reativa áreas urbanas consolidadas, promove inclusão e estimula a economia local. É uma forma de construir o novo respeitando o passado", conclui.

