“Quero, mas não consigo”: por que tantas mulheres ainda não dão o primeiro passo para empreender?
Muitas brasileiras querem empreender, mas enfrentam barreiras estruturais, da falta de crédito à insegurança pessoal, que impedem o início de seus negócios. Este artigo analisa os obstáculos e oferece caminhos práticos para superá-los.
Embora mais da metade das mulheres brasileiras declare interesse em abrir um negócio, muitas não passam do plano por medo, insegurança ou falta de recursos. Dados recentes revelam que 53% delas nunca conseguiram dar o primeiro passo. As causas variam de dificuldades de acesso a crédito até barreiras culturais e de autoconfiança, sublinhando a complexidade do desafio.
O empreendedorismo feminino no Brasil experimenta crescimento: segundo levantamento de 2025 da Mastercard, 80% das mulheres já consideraram empreender. Ainda assim, 53% dizem não ter realizado esse desejo.
Em paralelo, programas públicos como o Elas Empreendem - iniciativa do governo federal - buscam reduzir desigualdades estruturais e incentivar mulheres a formalizarem negócios.
Apesar do cenário de oportunidades, persistem obstáculos que impedem que o potencial seja concretizado em empresas de fato.
O relatório de 2024/2025 do Elas Empreendem aponta que apenas 33,9% dos empreendedores no Brasil são mulheres. Entre esses negócios liderados por mulheres, 65% permanecem informalizados, um fator que dificulta acesso a crédito, benefícios e expansão.
Ainda segundo esse relatório, apenas 25% dos recursos destinados a pequenos negócios são concedidos a mulheres.
Um estudo global da OECD mostra que mulheres são cerca de metade menos propensas que homens a obter empréstimos bancários para abrir ou expandir um negócio. Quando recebem investimentos externos, tipicamente conseguem valores menores e enfrentam exigências mais rígidas de garantias ou juros mais altos.
No Brasil, pesquisa da Sebrae mostra que, em 2024, as empreendedoras tiveram rendimento médio real de R$ 2.867, valor 24,4% inferior ao dos empreendedores homens.
Além da questão financeira, a desigualdade no trabalho doméstico também pesa: levantamento da SumUp em 2024 apontou que 60% das mulheres empreendedoras são responsáveis pela maior parte das tarefas domésticas, o que reduz o tempo disponível para o negócio.
Como destaca a OECD, “mulheres são cerca de metade menos propensas que homens a relatar que tomaram empréstimos bancários para iniciar, operar ou expandir um negócio”.
Para muitas mulheres, o problema não está apenas na falta de vontade mas no ambiente que dificulta o começo. Em entrevista à Mastercard, uma empreendedora disse que “a principal barreira para avançar foi a incapacidade de obter financiamento adequado”.
As barreiras enfrentadas por mulheres que ainda não começaram seus negócios têm impacto direto sobre desigualdades de gênero, renda e oportunidades socioeconômicas. Quando mulheres deixam de empreender, perde-se o potencial de gerar renda, empoderamento e mudança social.
Ao mesmo tempo, superar esses obstáculos, por meio de crédito, mentoria, formalização e redes de apoio, pode gerar novos negócios, empregos e estimular a inovação com diversidade. No longo prazo, isso implica em maior inclusão econômica e transformação social.
Possíveis orientações práticas para desbloqueio
Planejamento financeiro mínimo: considerar fontes alternativas de financiamento, iniciar com baixo custo, validar ideia antes de grandes investimentos.
Buscar mentoria e redes de apoio: conectar-se com outras mulheres empreendedoras, participar de grupos, estudar cases de sucesso. Um ambiente de apoio e troca de experiências pode fortalecer a convicção pessoal.
Formalização e acesso a crédito: procurar orientação para abrir MEI ou outro regime formal, entender requisitos bancários, construir histórico para facilitar financiamentos.
Equilíbrio entre vida pessoal e trabalho: estruturar horários, delegar tarefas domésticas (quando possível) ou planejar apoio externo, para dedicar tempo consistente ao negócio.
Desenvolver autoconfiança e mentalidade empreendedora: definir propósito claro, reconhecer qualidades e competências próprias, preparar-se para lidar com inseguranças sem que elas impeçam a ação.
Embora existam políticas públicas e iniciativas de fomento, muitas barreiras persistem estruturalmente: desigualdades de gênero no acesso a crédito, cultura de insegurança, dupla jornada entre trabalho e casa.
Além disso, nem sempre a simples formalização resolve: produtos financeiros nem sempre são pensados para perfis de mulheres empreendedoras, com menor capital de entrada ou necessidade de flexibilidade.
Dar o primeiro passo para empreender exige mais do que coragem, requer preparo, apoio e acesso a oportunidades. Quando essas condições forem garantidas, o potencial de realização e impacto se revela. Para muitas mulheres, o que falta não é vontade, mas as condições para transformar sonho em negócio real.

