Incêndio em Hong Kong: tragédia deixa 128 mortos e 200 desaparecidos
Autoridades apontam negligência em materiais inflamáveis usados na fachada; consultoria responsável tem diretores detidos por homicídio culposo
A tragédia que atingiu Hong Kong na última quarta-feira (26) ganhou contornos ainda mais graves conforme avançam as investigações. A Comissão Independente contra Corrupção (ICAC) anunciou, nesta sexta-feira (28), a prisão de mais seis pessoas, elevando para oito o total de detidos por envolvimento no incêndio de grandes proporções que devastou um complexo de apartamentos. O desastre já contabiliza 128 mortos e 200 desaparecidos, tornando-se uma das maiores emergências urbanas da história recente da cidade.
Os novos detidos se somam a dois diretores da consultoria Will Power Architects, presos ontem sob suspeita de homicídio culposo. Segundo as autoridades, a investigação identificou materiais altamente inflamáveis abandonados na fachada durante serviços de manutenção. A presença desses itens teria funcionado como combustível para a propagação acelerada das chamas, que engoliram o edifício antes que muitos moradores conseguissem escapar.
A força policial e as equipes de emergência relatam que, mesmo passados dois dias, o cenário ainda é de destruição. Bombeiros continuam percorrendo as estruturas danificadas para extinguir pequenos focos remanescentes e localizar vítimas. O trabalho é dificultado pelo risco de desabamento em áreas que ficaram totalmente comprometidas pelo calor extremo.
Até o momento, apenas 39 das 128 vítimas foram identificadas oficialmente. Peritos trabalham intensamente na análise dos corpos recuperados, enquanto familiares se concentram em centros de apoio montados pelo governo, à espera de notícias. O clima é de comoção profunda, e autoridades têm disponibilizado equipes de assistência psicológica para acolher sobreviventes e parentes, muitos deles em choque desde o início da tragédia.
A investigação da ICAC também mira possíveis falhas de fiscalização. Documentos preliminares indicam que a obra de manutenção realizada na fachada não apenas violou normas de segurança, como pode ter sido executada sem o devido acompanhamento técnico. Além de esclarecer responsabilidades, a tragédia reacende o debate sobre a necessidade de maior rigor nas inspeções de prédios antigos, comuns em Hong Kong, uma das regiões mais verticalizadas e densamente povoadas do mundo.
Autoridades municipais afirmaram que pretendem revisar protocolos de segurança e exigir relatórios mais detalhados de todas as empresas envolvidas em reformas externas. Especialistas ouvidos pela imprensa local apontam que incêndios em altura, como o registrado, tendem a se agravar quando há negligência na manipulação de materiais de risco.
Entenda o caso:
As chamas atingiram o condomínio Wang Fuk Court, localizado na região de Tai Po. O complexo, formado por oito prédios de 31 andares e com cerca de 2 mil apartamentos, abrigava mais de 4,6 mil moradores.
Os bombeiros trabalham com a hipótese de que o incêndio tenha se propagado de um edifício para outro devido à força dos ventos e ao carregamento de cinzas. Mais de 700 profissionais participaram da operação, incluindo equipes de resgate, pronto-socorro e policiais.
O incidente ocorre após um ano de alertas e reclamações sobre a segurança do local. No ano passado, mesmo após diversas queixas dos moradores sobre o risco de inflamabilidade em obras de reforma, as autoridades classificaram o complexo como tendo “risco relativamente baixo de incêndio”.
Com o número de desaparecidos ainda elevado, a previsão é de que o total de vítimas aumente nos próximos dias. O governo de Hong Kong reforçou o compromisso com uma investigação transparente e punição rigorosa aos responsáveis, enquanto a cidade tenta lidar com o impacto humano e estrutural de uma das maiores tragédias de sua história recente.
*Com informações da Reuters

