O poder de uma tela ligada

Quando a tecnologia se transforma em afeto: como chamadas de vídeo entre idosos e familiares estão ressignificando o cuidado, a presença e o envelhecer com conexão emocional

O poder de uma tela ligada
Foto: Divulgação

Há algo silencioso e poderoso em uma videochamada entre um idoso e sua família. Às vezes, são apenas cinco minutos de conversa, mas esse pequeno gesto redefine a sensação de presença. É o rosto familiar que aparece, o sorriso reconhecido, a voz que quebra o intervalo da distância. E, de repente, a tecnologia deixa de ser um instrumento e vira um laço.

A comunicação digital costuma ser associada à pressa, às distrações e ao excesso de mensagens. Mas, quando usada de forma sensível, pode se tornar o oposto: um espaço de tempo dedicado, uma janela de encontro. Em muitas instituições de longa permanência, encontros virtuais regulares têm transformado o cotidiano de idosos e famílias, mostrando que a presença não é apenas física.

A simplicidade da tecnologia é o que a torna tão potente. Não se trata de plataformas complexas nem de grandes investimentos, mas de um tablet, um celular e alguém disposto a criar um momento de conexão. Duas conversas por semana, em horários combinados, têm mostrado resultados visíveis no humor e na disposição emocional de muitos idosos.

A diretora da Mo'ã Residência de Vida Ativa, Gabriela Taquetti. Foto: Divulgação

Os profissionais que acompanham essas rotinas observam um padrão: quando a família se envolve, o idoso se sente mais seguro, mais interessado e mais confiante. Há também um efeito de reciprocidade: as famílias passam a entender melhor o dia a dia de quem está sob cuidados e a valorizar o trabalho das equipes envolvidas.

Essa forma de comunicação é um lembrete de que o afeto pode ser cultivado de múltiplas maneiras. As telas, quando bem usadas, podem ser portas abertas e não barreiras. Elas permitem que a vida siga acontecendo em conjunto, ainda que com quilômetros de distância.

O desafio é manter essa prática constante, incorporando-a como parte do cuidado. Afinal, envelhecer bem é também sentir-se visto, ouvido e lembrado. E, nesse sentido, uma chamada de vídeo pode ser muito mais do que um recurso digital; pode ser a presença que faz falta, agora ao alcance de um toque.

Gabriela Taquetti é diretora da Mo'ã Residência de Vida Ativa