Tarifaço dos EUA acende alerta no Espírito Santo e ameaça empresas familiares

Com tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de 2025, empresários capixabas temem impactos em cadeia; especialistas recomendam blindagem patrimonial e adaptação urgente

Tarifaço dos EUA acende alerta no Espírito Santo e ameaça empresas familiares
Foto: Divulgação

O Espírito Santo não lidera as exportações para os Estados Unidos, mas a medida anunciada pelo ex-presidente americano Donald Trump, que prevê tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto de 2025, já gera apreensão entre empresários capixabas, sobretudo os que comandam empresas familiares. O impacto, que pode tirar mais de US$ 23 bilhões do Brasil até 2026, vai além das grandes multinacionais.

“Quem acha que isso é problema só de multinacional está redondamente enganado. A cadeia produtiva é interligada. Um tarifaço como esse pode atingir uma pequena metalúrgica da Serra, uma fábrica de embalagens em Cariacica ou uma indústria de café em Linhares, mesmo que ela não exporte diretamente”, alerta o advogado patrimonialista Lucas Judice.

Segundo Judice, o problema é que muitas empresas familiares ainda não têm sequer o básico de organização jurídica para lidar com crises externas. Ele recomenda ações como a criação de holdings familiares e a separação de bens dos sócios como formas de blindagem. “Blindagem patrimonial não é luxo. É necessidade para quem quer dormir tranquilo. É o que separa uma família que passa por dificuldades daquelas que perdem tudo”, afirma.

Judice reforça que, mesmo empresas que não exportam diretamente, devem se preparar para o impacto indireto. “Frigoríficos, por exemplo, que vendem para o mercado interno agora terão que competir com toneladas que seriam exportadas. Maior oferta e menor demanda faz o preço cair. O empresário deve ficar atento ao seu fluxo de caixa e compartilhar dados com outros do setor. Informação e agilidade são chave neste momento.”

A recomendação do advogado para começar o processo de blindagem patrimonial é procurar um profissional que compreenda direito societário, tributário, sucessório e empresarial. “O primeiro passo é avaliar o tamanho do patrimônio e os riscos. Proteger uma empresa e seus sócios não é sinônimo de custo alto, mas de investimento e redução de risco futuro.”

Medidas já devem ser tomadas

A preocupação é compartilhada pelo economista Vaner Corrêa, graduado pela Ufes e pós-graduado pela UVV. Para ele, o tarifaço representa “um sinal inequívoco da crescente descredibilidade da política externa e econômica do atual governo federal”. Simões destaca que 33,9% das exportações capixabas vão para os EUA. “A aplicação de tarifas punitivas comprometerá diretamente a competitividade externa das nossas mercadorias, acarretando queda de produtividade, retração de investimentos e inevitável desemprego em massa.”

Simões destaca que os efeitos do tarifaço devem atingir também toda a indústria de base capixaba. “A redução da atividade exportadora derrubará a produção interna e seus elos interindustriais, afetando arrecadação estadual, consumo das famílias e a já frágil coesão social.”

Judice alerta ainda que é hora de pensar de forma estratégica e com visão de longo prazo. “Durante uma crise potencial, é fundamental focar em fluxo de caixa: vender a preço de custo, renegociar prazos, cortar investimentos não essenciais. Não há receita pronta, mas quem estiver preparado terá mais chances de atravessar a tempestade.”

A mensagem dos especialistas é clara: o empresário capixaba precisa agir agora. “Essa tarifa é só o começo. O mundo está mudando rápido e quem não se adapta fica para trás, ou pior, perde tudo”, finaliza Judice.