Transtorno Dismórfico Corporal: o lado invisível da busca pela perfeição

Especialistas alertam para os sinais do transtorno, que vai além da vaidade e exige atenção psicológica e médica especializada

Transtorno Dismórfico Corporal: o lado invisível da busca pela perfeição
Crédito: Getty Images

A cantora Anitta voltou a ser assunto nas redes sociais ao exibir mais uma modificação no rosto, afirmando que “sempre fez plástica e não pretende parar”. A nova transformação gerou grande repercussão online, com críticas e comparações — a mais viralizada ligou a aparência da artista à da ex-deputada federal Flordelis, atualmente presa pela morte do marido. A publicação no X (antigo Twitter) impulsionou o debate sobre os excessos em procedimentos estéticos e acendeu um alerta para os riscos que envolvem a distorção da autoimagem.

A artista já declarou publicamente que gosta de mudar e que não vê problemas em realizar cirurgias plásticas. No entanto, o caso reacendeu uma discussão importante sobre os limites da harmonização facial e os impactos emocionais e psicológicos desse comportamento, que pode ser sintoma de um transtorno mais profundo.

O que é dismorfia corporal?

No campo da saúde mental, essa obsessão com a aparência pode estar relacionada ao Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). A psicóloga Germana Cola explica que o TDC é uma condição em que a pessoa desenvolve uma preocupação excessiva com defeitos mínimos ou até inexistentes em sua aparência.

“Muitos desenvolvem rituais exaustivos porque a pessoa se vê presa a uma imagem que ela não reconhece como sua. Isso pode incluir horas se maquiando, escolhendo roupas ou até passando por sucessivos procedimentos estéticos, com uma constante insatisfação com os resultados. É um sofrimento profundo, que pode levar à ansiedade, depressão, isolamento social e, em casos mais graves, pensamentos suicidas”, alerta a psicóloga.


Anitta foi comparada à ex-deputada Flordelis, presa em 2019, pela morte do marido. crédito: Divulgalção/Instagram

Segundo Germana, a cultura da imagem, fortemente impulsionada pelas redes sociais e pelos filtros de edição, tem agravado a situação. “Vivemos em uma sociedade que reforça padrões inalcançáveis de beleza. Isso afeta, sobretudo, os jovens, que acabam desenvolvendo uma relação distorcida com o próprio corpo”, pontua.

Ela também destaca que o diagnóstico não é simples e não deve ser feito com base em julgamentos superficiais. “Nem toda insatisfação estética é TDC. É preciso avaliar cada caso individualmente, pois os sintomas podem estar ligados a outras questões, como transtornos alimentares, depressão ou ansiedade social”, completa.

Ética e responsabilidade na estética

Na área da estética, profissionais defendem que os procedimentos devem ser conduzidos com bom senso, técnica e ética. A dentista e especialista em harmonização facial Chris Furtado afirma que a harmonização não deve ser usada para transformar totalmente um rosto, mas sim para equilibrar suas proporções e amenizar o processo natural de envelhecimento.

“O principal objetivo é gerenciar o envelhecimento e corrigir assimetrias de forma sutil. A proposta não é transformar o rosto de ninguém, mas alcançar um equilíbrio estético que valorize a identidade do paciente”, explica.


É necessário ter limites e ética para ter resultado nas sessões de harrmonização facial. crédito: Divulgalção/Instagram

Chris também alerta para o papel dos profissionais na condução dos tratamentos. “Quando o foco está apenas no lucro, o paciente corre riscos. Ética e planejamento são fundamentais. O ideal é procurar especialistas experientes, que pensem no resultado a longo prazo, e não apenas em vender procedimentos”, afirma.

Com a imagem cada vez mais no centro das relações sociais e profissionais, a busca pela perfeição estética tem se tornado um terreno delicado, que exige equilíbrio entre autoestima, saúde mental e responsabilidade profissional. O caso de Anitta mostra que a discussão está longe de ser apenas sobre beleza — trata-se, sobretudo, de saúde e bem-estar.