Construção civil bate recorde de empregos, mas crédito à produção cai mais de 60% no 1º semestre de 2025

Setor registra mais de 3 milhões de empregos formais, mas sofre com retração no financiamento à produção; CBIC alerta para riscos no médio prazo

Construção civil bate recorde de empregos, mas crédito à produção cai mais de 60% no 1º semestre de 2025
Foto: Divulgação

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) divulgou nesta segunda-feira (25) um panorama do setor no segundo trimestre de 2025, apontando um cenário paradoxal. Apesar do crescimento no número de empregos formais, que ultrapassou a marca de 3 milhões pela primeira vez desde 2014, o volume de crédito destinado à produção imobiliária teve uma queda expressiva, levantando preocupações para os próximos meses.

De janeiro a maio deste ano, foram financiadas apenas 24.115 unidades habitacionais com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), uma retração de 62,9% em relação ao mesmo período de 2024. Em valores, a redução foi de 54,1%, passando de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões.

A economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, atribui o cenário a um desequilíbrio entre a taxa básica de juros — Selic mantida em 15%, o maior patamar em duas décadas — e a baixa captação da poupança, que registrou uma saída líquida de R$ 38,4 bilhões apenas no primeiro semestre. “O custo do crédito está elevado tanto para o comprador quanto para o construtor. Os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção”, explica Ieda.

Mesmo diante do ambiente desfavorável ao crédito, a construção civil segue como um dos motores da economia. “O setor continua gerando empregos, movimentando a economia e contribuindo para o crescimento do país. Os dados mostram a força e a resiliência da construção, mas também evidenciam a urgência de medidas que garantam um ambiente mais favorável à produção e ao investimento”, alerta Renato Correia, presidente da CBIC.

Empregos

A construção civil continua sendo uma das principais responsáveis pela geração de empregos formais no Brasil. Entre janeiro e maio de 2025, o setor abriu 149,2 mil novas vagas com carteira assinada. Embora o número seja inferior ao registrado em 2024, ainda supera o desempenho de 2023 e mantém a atividade como uma força importante na recuperação econômica.

Todos os três segmentos que compõem o setor — construção de edifícios, obras de infraestrutura e serviços especializados — apresentaram saldo positivo no período. Um dado que chama atenção é o perfil dos novos contratados: 47,7% têm entre 18 e 29 anos e 62,2% possuem ensino médio completo, o que ajuda a quebrar dois estigmas recorrentes sobre a mão de obra da construção — a de ser pouco qualificada e pouco atrativa para os mais jovens.

Outro destaque é o salário médio de admissão, que chegou a R$ 2.436, o maior entre todos os setores analisados, superando inclusive os valores médios da indústria, dos serviços e da administração pública. Esses dados reforçam o papel estratégico da construção civil tanto na absorção de mão de obra quanto na valorização profissional dos trabalhadores.

Espírito Santo

No Espírito Santo, o volume de crédito destinado à produção imobiliária, isto é, ao financiamento de projetos e construções, segue em forte retração, refletindo o cenário nacional divulgado pela CBIC.

Nacionalmente, entre janeiro e abril de 2025, os financiamentos para a produção imobiliária caíram cerca de 49%, chegando a R$ 7,1 bilhões, frente aos R$ 15,5 bilhões no mesmo período de 2024.

Embora não existam dados específicos para o Espírito Santo separados por fonte pública, o mercado capixaba tem sentido os efeitos dessa retração geral. Incorporadoras locais já reportaram dificuldades de acesso às linhas tradicionais do SBPE, e estão buscando alternativas como fundos de investimento imobiliário (FII), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) para financiar novos lançamentos.

Em síntese, o Espírito Santo segue o padrão nacional: queda expressiva no volume de crédito a construtoras por meio do SBPE, com impacto direto no ritmo de lançamentos e produção local. O descompasso entre a alta da Selic e a baixa captação da poupança, principal fonte dos recursos SBPE, torna o crédito mais caro e mais restrito, tanto para construtores quanto para compradores.

*Com informações da CBIC.