Quando Nascemos, Guarapari?
Muito antes da maioridade cívica, Guarapari já vivia, já tinha gente, trabalho, fé, ritos, trocas, pesca, caminhos na areia, canto de igreja e cheiro de mar.
Guarapari, meu amor. Hoje escrevo com o coração aberto, não para encerrar o debate sobre nossa idade, e sim para celebrar um fato que nos enche de orgulho, somos também uma cidade histórica. Quero convidar cada morador, cada visitante, cada pessoa que carrega esta terra no peito, a olhar para nossa origem com carinho e coragem. Não pretendo determinar nada, pretendo comemorar, pretendo afirmar quem somos.
Pense comigo. No Brasil, ainda hoje, milhares de crianças nascem em casa, longe de hospitais. O registro no cartório pode levar dias ou meses, a certidão chega depois. O batismo, ato de fé, às vezes vem anos mais tarde. A emancipação, o direito de responder por si, só chega aos 18 anos. Há quem creia que a vida começa na concepção, há quem discuta a existência de vida com apenas três meses no útero. Em meio a tantos marcos, qual é o dia que todos nós celebramos com bolo e velas, qual é a data que vira festa, música e abraço, qual é o momento que faz o peito encher de ar e a família inteira sorrir. O dia do nascimento físico, o dia do primeiro respiro.
Agora traga essa imagem para nossa história. Muito antes da maioridade cívica, Guarapari já vivia, já tinha gente, trabalho, fé, ritos, trocas, pesca, caminhos na areia, canto de igreja e cheiro de mar. Nossa vila começou a surgir em 1569, ganhou forma de comunidade, organizou-se como povo e teve sua fundação celebrada em 1585. É desse berço que vêm nossos costumes e a alma que nos move. A emancipação política, alcançada depois, é um marco valioso do nosso percurso, representa a maioridade institucional, não o nascimento.
Reconheço que a discussão é antiga e bonita, ela nos fez pensar e aprender. Falamos dos primeiros povos que aqui estavam, da chegada dos portugueses, dos documentos sobre a Aldeia Guaraparim, da primeira igreja. Tudo isso compõe nossa identidade. O que proponho é simples e urgente, que a cidade comemore a própria vida olhando para o seu começo, que escolha celebrar o dia em que respiramos como comunidade.
Se no futuro um documento ou descoberta comprovar que somos ainda mais velhos, que maravilha. Faremos uma festa ainda maior. Mas a espera acabou. Vamos ensinar nas escolas, iluminar as praças, convocar o comércio, os artistas, os esportistas, os pescadores e os hoteleiros, vamos transformar história em pertencimento e pertencimento em alegria.
Em 2025, celebramos 456 anos desde a fundação, comemoramos também 134 anos de emancipação política. Assim honramos a infância e a maioridade da mesma cidade. Este ano, vamos encher o peito e dizer juntos: Parabéns, Guarapari, pelos seus 456 anos de vida e seus 134 anos de emancipação!
Fernando Otávio Campos é secretário de Turismo de Guarapari e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Espírito Santo (ABIH-ES)

