A estética da pálpebra: com os olhos, não se brinca

Procedimento nas pálpebras exige avaliação cuidadosa e atuação conjunta entre cirurgiões plásticos e oftalmologistas para garantir segurança e preservar a visão

A estética da pálpebra: com os olhos, não se brinca
Foto: Divulgação

A blefaroplastia, ou cirurgia de pálpebras, conquistou o posto de procedimento estético mais realizado no mundo em 2024, conforme revelou recentemente a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). No Brasil, país que tradicionalmente figura entre os líderes em número de cirurgias plásticas, o cenário não é diferente. As pálpebras passaram a receber tanta atenção quanto o contorno corporal, seja pelo desejo de um olhar rejuvenescido seja pela necessidade de corrigir alterações que comprometem o campo visual.

A alta procura é um indicativo de que os cuidados com a aparência e a saúde ocular caminham juntos. Mas, o que muitos desconhecem é que nem toda intervenção nessa região deve ser encarada como um mero ajuste estético. A anatomia que envolve os olhos exige conhecimentos que ultrapassam os aspectos da cirurgia plástica tradicional. Por isso, quando o procedimento envolve a delicada área ao redor dos olhos, a participação do oftalmologista se torna estratégica - tanto na avaliação prévia quanto, em muitos casos, na própria execução.

Não se trata de estabelecer fronteiras rígidas entre especialidades médicas, mas de reconhecer a complexidade das estruturas oculares e o papel que cada profissional pode desempenhar para preservar ou restaurar funções essenciais à visão. A blefaroplastia, por exemplo, pode parecer simples ao corrigir excesso de pele ou bolsas de gordura, mas um olhar técnico atento percebe quando há sinais que exigem investigação mais profunda. Uma queda palpebral pode não ser apenas um traço do envelhecimento, mas o reflexo de alguma condição muscular ou neurológica que demanda tratamento específico.

Assim, é fundamental que o paciente tenha clareza sobre quem está habilitado para intervir. O cirurgião plástico possui técnica refinada e importante para o sucesso do procedimento estético. Já o oftalmologista especializado em plástica ocular conhece com profundidade a biomecânica das pálpebras, os músculos que regulam o fechamento dos olhos e os impactos de qualquer modificação nessa região sobre a saúde ocular.

A avaliação oftalmológica prévia à cirurgia é capaz de identificar questões como olho seco, disfunções nas vias lacrimais e alterações na estrutura palpebral que podem ser agravadas ou mal conduzidas se não houver esse cuidado especializado. Há ainda riscos menos conhecidos, como dificuldade no fechamento dos olhos após a cirurgia, que pode levar a lesões na córnea ou desconforto permanente. Problemas evitáveis, desde que haja a integração entre especialidades e a escolha criteriosa do profissional.

O avanço das técnicas cirúrgicas deve, cada vez mais, vir acompanhado da personalização no atendimento. O que está em jogo não é apenas a simetria do rosto ou o olhar descansado, mas a preservação de uma função vital: proteger e manter a saúde dos olhos. Afinal, um resultado estético satisfatório não pode ser alcançado às custas de danos que comprometam a visão ou a qualidade de vida.

Que o olhar, símbolo de identidade e expressão, seja sempre tratado com o respeito que merece. Informação e responsabilidade são aliados indispensáveis para que a busca por beleza caminhe ao lado da preservação da saúde ocular.

 
Dra. Liliana Nóbrega - oftalmologista capixaba Liliana Nóbrega, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular