A força silenciosa do médio padrão
Enquanto segmentos de alto padrão enfrentam desafios diferentes, imóveis de até R$ 1,5 milhão mostram estabilidade, impulsionados por financiamento acessível, FGTS e demanda consistente por qualidade e localização estratégica.
Em meio a um cenário de juros altos e crédito restrito, o setor imobiliário capixaba tem mostrado uma lição importante: nem todo o mercado reage da mesma forma às turbulências da economia. Enquanto alguns segmentos sentem de forma mais intensa a pressão dos juros, outros conseguem se manter estáveis.
O médio padrão – imóveis de até R$ 1,5 milhão – tem se mostrado o mais resistente a essas oscilações. Amparado por regras específicas do Sistema Financeiro da Habitação, com juros subsidiados abaixo da taxa básica, o financiamento continua atrativo para famílias que sonham com a casa própria. O resultado é que, mesmo diante das incertezas econômicas, as vendas nessa faixa não registram grandes quedas.
No alto padrão, a dinâmica é outra. Os compradores, em geral, dispõem de recursos próprios e quitam seus imóveis durante a obra ou logo após a entrega. Isso faz com que a taxa Selic tenha pouco impacto nesse nicho, que continua movimentado mesmo quando o crédito se torna mais caro e restrito.
A principal mudança não está nos números, mas no comportamento dos consumidores. Mais cautelosos, eles passaram a valorizar ainda mais localização, tipologia e qualidade construtiva. Procuram imóveis que não sejam apenas moradia, mas também proteção patrimonial - bens que tenham potencial de valorização acima da inflação e das taxas de juros.
Essa mudança de mentalidade é saudável. Obriga construtoras e incorporadoras a desenvolverem projetos com mais aderência às demandas reais da sociedade, sustentados por pesquisas e pelo olhar atento às transformações urbanas. Localização estratégica, infraestrutura de entorno e acabamentos de excelência deixaram de ser diferenciais para se tornarem exigências básicas de um comprador cada vez mais informado e seletivo.
Roberto Puppim é diretor da Cittá Engenharia. Foto: Divulgação
Outro elemento que explica a resiliência do médio padrão é o uso do FGTS na aquisição do imóvel. Esse recurso funciona como alívio financeiro e aumenta o poder de compra, mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador. Com isso, a relação entre oferta e demanda se equilibra e mantém o setor ativo, sustentando empregos e dinamizando a economia local.
E as perspectivas indicam que essa faixa continuará sendo uma das mais relevantes do mercado. Há uma demanda sólida e contínua por imóveis que conciliem preço, qualidade e localização estratégica.
Em um contexto de instabilidade econômica, o médio padrão resiste, se adapta e se fortalece. Além de atender ao desejo de milhares de famílias, ele também se consolida como um pilar de estabilidade para o mercado imobiliário capixaba. Ignorar sua força é fechar os olhos para a forma como as cidades crescem e para como os capixabas planejam seu futuro.
Roberto Puppim é diretor da Città Engenharia

